Parceria entre Colossus e Coomigasp não deu certo porque
já começou errada, afirma interventor Alexandre Mendes
Por Lima Rodrigues, de Curionópolis (PA)
(Curionópolis – 16-01-2014) “Não foi uma surpresa porque eu já
vinha acompanhando a desvalorização das ações da Colossus na Bolsa de Valores.
Era previsível que se chegasse a esse ponto. Todo processo que inicia errado
não chega até o fim, e assim foi a parceria entre Coomigasp e
Colossus”. A declaração foi feita com exclusividade a este repórter pelo interventor
da Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp),
Alexandre Mendes, ao comentar sobre a recente demissão de 400 funcionários da
empresa canadense Colossus que vinha explorando a mina de Serra Pelada no
município de Curionópolis, no sudeste do Pará. Ele fez também uma avaliação
positiva sobre sua administração até agora à frente da cooperativa e respondeu
a outros questionamentos de interesse dos garimpeiros e da sociedade em geral.
A intervenção ocorreu em outubro do ano passado por determinação da Justiça de
Curionópolis, a pedido do Ministério Público do Estado do Pará. De acordo com o
MPE, “o objetivo da intervenção foi para que a Coomigasp fosse
profissionalmente e administrativamente gerida, intencionando ainda garantir a
lisura, transparência e legitimidade nas eleições internas dos seus dirigentes,
vislumbrando atingir seu objetivo precípuo, que é a distribuição dos lucros aos
seus cooperados”. Confira a
entrevista:

Como
fica a situação da Coomigasp com esta crise financeira da Colossus e a demissão
de mais de 400 funcionários da mina de Serra Pelada?
Chegou o grande momento de fazermos a
coisa certa. Vamos ter a oportunidade de viabilizar o projeto de forma justa
para o garimpeiro, seja com novos investidores ou por conta própria.
Como
o senhor recebeu a notícia da demissão dos funcionários da Colossus? Foi pego
de surpresa?
Não foi uma surpresa porque eu já
vinha acompanhando a desvalorização das ações da Colossus na Bolsa de Valores.
Era previsível que se chegasse a esse ponto. Todo processo que inicia errado
não chega até o fim, e assim foi a parceria entre Coomigasp e
Colossus.
A
Colossus vinha repassando normalmente o dinheiro para a manutenção e pagamento
de funcionários e fornecedores da cooperativa?
O último repasse foi feito em
outubro, desde então não foi feito mais nenhum pagamento na conta de
consignação.
O
que os garimpeiros podem esperar daqui para frente em relação à exploração da
mina de Serra Pelada? Outra empresa entrará no lugar da Colossus?
O garimpeiro pode ter a certeza que
tomaremos todas as medidas cabíveis e faremos o que estiver ao nosso alcance
para conseguir a melhor alternativa de viabilidade do projeto. Não podemos e
nem queremos que todo o trabalho feito até agora se perca. Independente da
solução que vamos encontrar para esse momento, o importante é ressaltar que o
garimpeiro estará envolvido em todas as decisões relacionadas à viabilidade do
projeto.
O
senhor pretende convocar uma assembleia geral extraordinária para discutir a
situação com os garimpeiros? Quando seria?
Nesse primeiro momento, o importante
é listarmos quais alternativas temos para o projeto, para depois discutirmos
com os garimpeiros. Porque é claro que o garimpeiro participará diretamente nas
decisões.
Qual
o balanço que o senhor faz de sua administração até agora?
Temos um balanço muito positivo. Todas
as ações designadas no termo de nomeação da intervenção já estão em andamento,
como por exemplo: Já iniciamos a auditoria no cartório; fizemos levantamento do
passivo da cooperativa; iniciamos auditoria financeira e contábil; estamos com uma
equipe técnica de engenheiro de Minas e Geólogo atuando em Serra Pelada; estamos
implantando um modelo de gestão a ser seguido nas próximas gestões, um sistema
de gestão integrado; estamos avaliando a licitude de todas as dívidas
contraídas pela cooperativa; encerramos com todas as delegacias, centralizando
as operações no escritório de Curionópolis; implantamos um sistema online de
pagamento das mensalidades; estamos analisando todos os contratos da
cooperativa, começando pelo da Colossus, que de imediato entramos com uma ação
de nulidade em função das várias irregularidades encontradas; fizemos um plano
de redução de custos da cooperativa; implantamos ponto eletrônico para todos os
funcionários; buscamos parcerias com o Governo do Estado para atuar nas
questões sociais de Serra Pelada; estamos analisando toda documentação para iniciar
o beneficiamento da montoeira; além de diversas outras ações de melhorias.
Com
esta crise da Colossus, a intervenção continua ou o senhor acha que o
Ministério Público pode se afastar do caso? Pessoalmente, o senhor pretende
continuar como interventor?
Com certeza o
Ministério Público não irá se afastar do caso logo nesse momento em que é
precisa unir esforços para viabilizar de uma vez por todas o projeto Serra
Pelada. Na verdade esse é o grande momento de esquecer as diferenças e as
autoridades do nosso país promoverem um
mutirão para dar ao garimpeiro aquilo que é dele por direito. A classe
garimpeira é formada de pessoas cansadas de lutar. Houve muita injustiça ao
longo desses 32 anos, muita desigualdade. É hora de o Brasil mudar essa página
de Serra Pelada e sem dúvidas darei a minha contribuição enquanto fizer parte
do processo.
O
senhor não teme uma invasão de garimpeiros ao canteiro de obras de Serra
Pelada, conflito com a polícia e até mortes em breve?
Não haverá invasão porque o
garimpeiro já percebeu que esse não é o melhor caminho. Além disso, a classe
deposita confiança na intervenção para ajudar a solucionar essa causa. Nesse
momento, precisamos da união dos garimpeiros para apresentarmos um cenário de estabilidade para o mercado e
atrair possíveis novos investidores.
Quais
as providências imediatas que o senhor está tomando para resolver a situação,
já que a Colossus parece que está se afastando de vez dos investimentos na
mina?
Já acionamos o Governo do Estado
através do MP, o qual se mostrou disponível a contribuir com o que for
necessário para a viabilidade do projeto. Faremos o mesmo com quem for
necessário, sejam deputados estaduais, federais, ministro de Minas e Energia e
até mesmo a presidência da república, se for necessário. É hora de esquecermos
as diferenças, precisamos unir esforços para darmos a solução digna e justa à Serra
Pelada e para os garimpeiros da Coomigasp.
Qual
seu apelo às autoridades brasileiras e sua mensagem aos garimpeiros neste
momento tão crítico para a Coomigasp?
Para as autoridades brasileiras,
informo que não temos mais tempo a esperar. A hora de dar a solução para Serra
Pelada é agora. Vamos mostrar à classe garimpeira a solução. Vamos mostrar
para o mundo um case de sucesso. Vamos
mostrar para o mundo que o Brasil também faz justiça e que trabalha para
diminuir a desigualdade social.
Fonte: Freddigasp