Interventor da Coomigasp realiza primeira visita à vila de Serra Pelada

A rejeição de uma minoria ocorreu
apenas no momento em que o interventor visitou o acampamento instalado nas
proximidades da área onde a empresa Colossus trabalha na escavação da mina,
visando à produção de ouro, platina e paládio nos próximos meses. Algumas
pessoas mais exaltadas não quiseram nem ouvir as explicações de Alexandre
Mendes, alegando que “não vão aguentar esperar por mais seis meses para ver a
situação resolvida”.
Bem calmo e demonstrando
tranquilidade, o interventor disse que sua intenção era apenas conversar,
trocar informações e declarou que está ao lado dos garimpeiros. “A intervenção
não é para assumir a presidência da Coomigasp. Eu vim para organizar a
cooperativa, já que ninguém sabia quem era o presidente de fato devido à
disputa entre dois grupos de garimpeiros”, explicou. Ele deixou claro que não
tem vínculo com a Colossus. “Nunca entrei na Colossus. Não tenho nada a ver com
esta empresa. Fui nomeado para resolver a questão ao lado dos garimpeiros”,
frisou. Apesar da insistência de Alexandre Mendes o grupo de pessoas acampadas
não quis ouvir detalhes das explicações do interventor. “Não aceitamos esta
intervenção. Não vamos ficar aqui sofrendo debaixo de lona por mais seis
meses”, afirmaram alguns garimpeiros fiéis ao líder garimpeiro Vitor Alborado,
que chegou a ser eleito em uma assembleia, que posteriormente foi anulada pela
justiça do Pará, dando reintegração de posse ao presidente anterior, Valder
Falcão.
Já de volta à sede antiga da
Coomigasp, em Serra Pelada, Alexandre Mendes foi bem recepcionado por um grupo
e teve a oportunidade de explicar os motivos da intervenção na cooperativa e como
será o seu trabalho para organizar a entidade garimpeira. “Viemos para resolver
o problema ao lado de vocês. Sou da região e conheço bem a realidade do garimpo
de Serra Pelada”, destacou.
Depois, em entrevista à imprensa, o
interventor fez uma avaliação positiva da reunião com os garimpeiros e
funcionários da Coomigasp. “Foi bastante positiva sim. Os garimpeiros estão
acreditando na Justiça. Vamos realizar um trabalho sério e transparente com a
colaboração de profissionais capacitados e qualificados. Estamos aqui para
lutar em favor dos garimpeiros”.
Abertura de contas
Sobre a reação contrária à
intervenção, manifestada por um pequeno grupo no assentamento localizado
próximo à área da mina, Alexandre Mendes considerou o fato normal. “Já estava
preparado para aquela reação. Os garimpeiros estão cansados de ser enganados e
a resposta nem sempre vem como eles querem. Vamos fazer o possível para que em
seis meses a Coomigasp possa estar saneada. Vamos mostrar resultado”, declarou.
Ele disse que além de sanar as
dívidas da cooperativa, uma das medidas principais “é providenciar a abertura
de contas bancárias dos cooperados para que, em breve, quando a Colossus
começar a pagar os dividendos da produção mineral, os garimpeiros recebam seus
valores diretamente nas contas, sem interferência da cooperativa”. E mandou uma
mensagem aos garimpeiros. “Confie no trabalho do interventor e de sua equipe de
profissionais tecnicamente capacitados. Este sonho nós vamos realizá-lo. Haverá
uma fiscalização constante sobre nosso trabalho e vamos fazer o melhor por
vocês. Acreditem!”
Repercussão
O garimpeiro Gonçalo Ferreira da
Silva, que há mais de 25 anos sonha em receber algum valor oriundo da
exploração do ouro de Serra Pelada, estava confiante no trabalho no interventor.
“Vamos aguardar acontecer. Esperamos dias melhores. Chega de sofrimento e só gastando
dinheiro com viagens sem receber nada. Agora mesmo meus filhos estão precisando
de dinheiro no Maranhão e eu não tenho como enviar nada para eles. Espero que
ele resolva esta situação”.
O experiente garimpeiro João
Francisco Gaia, de 73 anos, que chegou ao garimpo em 23 de abril de 1982, disse
que estava cansado de promessas, mas também demonstrou confiança no
interventor. “É um entra e sai de presidente e agora o interventor, muita
promessa, mas nada se resolve. Mas esperamos que a partir de agora a coisa se
reverta em prol dos garimpeiros”.
Outro garimpeiro, “seu” Lourival
Chutz, de 76 anos, destacou que a esperança é boa. “Esperamos resultados positivos
há 32 anos, mas até agora não sabemos o que vai acontecer. Nesse tempo todo
comemos o pão que o diabo amassou, mas acredito que com o trabalho do
interventor a coisa ficará boa para todos nós”.
Antônio Alves da Silva Neto, de
Arapoema (TO), que também luta por seus direitos de garimpeiro desde a década
de 1980, disse que “gostaria que o Arquiteto do Universo colocasse nas mãos das
autoridades competentes a solução para o problema dos garimpeiros. Teve
presidente que passou pela Coomigasp e até vendeu o que não era dele e sim o
que pertence a esta classe sofrida”, destacou Antônio, alertando que “o
interventor também deve tratar da regularização fundiária dos mais de mil
hectares pertencentes à Coomigasp em Serra Pelada”.
O garimpeiro pediu justiça para esta
classe tão sofrida. “Falta justiça para o povo garimpeiro. Se não tivermos uma
força séria não vamos resolver nossa situação”, destacou.
(Ascom-Coomigasp/Freddigasp).